sábado, 2 de outubro de 2010

Viúva-negra

   "Eu tenho medo de machucar você".
   "Eu assumo os riscos". Os olhos de Jorge fulguraram temerários, nesse instante. Suas narinas exalaram a fumaça aromática de cereja, o narguilé seguro entre os dedos tremulantes.
    Os braços esticaram-se e entrelaçaram-se, como se fios fatais de uma teia se fizessem, os riscos se concretizando.
    Ah, riscos! Que são riscos? Que são riscos quando há uma inexplicável atração, uma vontade suicida de perigo, um querer mútuo de línguas quentes nos lóbulos auriculares?
    Jorge sabia que aquilo podia não ser amor, que aquilo podia ser um vício - sim, um vício. Sentir aqueles lábios venenosos na calada da noite, estremecer diante o perigo de ser devorado pela viúva-negra. Envolver-se numa teia incerta, invisível e mortal, capaz de arrepiar os pelos dos pés aos da nuca, embriagar-se de extasiante peçonha.
               Ele não queria segurança. Ele queria riscos, queria choros e abraços violentos e beijos sufocantes e quereres cotidianos. Ele queria. Queria muito ser envenenado e devorado.

Um comentário:

  1. Uau,se superando a cada dia. Não preciso falar novamente o quanto sou fã dos seus textos.Embora ache que você anda numa onda muito dark. Adoro contrastes. Impossível não comparar o meu blog, o seu e o da Pri. Somos tão diferentes.rsrs

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