terça-feira, 26 de outubro de 2010

Se eu tivesse 0,5% de chances, eu até tentava parar de fumar.
          Como eu não tenho,  FUCK YA!

sábado, 23 de outubro de 2010

Oublie

                                                                                            << Hurricane - Hellbenders >>

         Rasgue tudo, porque é mentira. Não houve sorrisos, não houve abraços, não houve vinho chileno, não houve amor.

        Rasgue as cartas, os retratos e apague os e-mails, por favor. Não se esqueça de rasgar também as memórias, com suas palavras e seus suspiros.
        Hoje sei que vou beber todas - até vomitar -, pois nunca houve nada. Meus amigos já me esperam na mesa do bar com aquela cerveja de que você gostava e com sal numa tampinha, pra lambermos como você lambia. Mas não vamos falar de você. Aliás,nem vamos nos lembrar de que você um dia existiu. Não... vamos falar de coisas prazerosas e vamos rir e vamos contar piadas e vamos falar de Hellbenders...ah, se você estivesse lá!
        E, provavelmente, agora você deve estar achando, lá no seu apartamento feio, solitário e triste, que eu fico pensando em você. Mas saiba que não estou fazendo isso. Acendi um incenso e estou debruçado na cama, redigindo e ouvindo algumas músicas que, normalmente, me lembram você, mas – pasme! - você nem passou pela minha cabeça hoje.
        Viu como você não significa absolutamente nada pra mim? Tenho coisas importantes no meu dia que me mantêm muitíssimo ocupado(lembra-se de quando você fez um comentário a respeito da minha agenda cheia?), de forma que não teria tempo algum pra pensar em você.
        Tenho certeza de que você está sozinho hoje, ouvindo Maria Bethânia e comendo brigadeiro de panela. Bem feito. Eu só não estou com ninguém porque realmente não quero. Às vezes, quando me sinto um pouco mal – mas não muito – coloco AC/DC pra tocar, como agora, e tudo fica bem.
        Amanhã vou acordar bem cedo, como de costume, e continuará não havendo rastros dos seus olhos brilhantes na minha mente, muito menos das suas covinhas quando sorri ou do cheiro inconfundível da sua pele.
       Agora que você sabe que eu não preciso de você e que não lamento nem um pouco a inexistência sua e de todas aquelas coisas, poderia também me esquecer – sei que você pensa em mim o tempo todo – e, assim que der, me desbloquear no msn, já que não há e nunca haverá nada entre nós mesmo.

Cantiga nº 1

As palavras que escrevo, babe
As calúnias que profiro,
O bem e o mal que cometo
Tudo dedico a ti.


Por ti são as ressacas , e as mágoas
E as cefaleias de que sofro
Meus pulmões já tossem roucos
De tanto tragarem a tua ausência.



Pelas lágrimas que derramo
Só a um posso culpar
E cada nota tropeçada que canto
Somente a ti posso dirigir.



Onde estás, babe, que não te vejo?
O gosto dos meus sonhos ainda reside em meus lábios
A ternura dos teus olhos míopes ainda me aquece
E só quero a ti.



Não é amor, ainda insisto;
É antes um vício, uma teima
Qual o arder dum cigarro sob a chuva
Ou o ébrio que cambaleia, mas não cai.



Babe, Ella solfeja o teu hálito em minha mente
E um riff agudo sacoleja-me a espinha
Mas tudo o que quero é poder repousar
Tranquilo nos teus braços, ainda que petrificado.



Meus braços magros tateiam o ar
Na busca incessante do calor dos teus
A grama amarela da praça me sugere o teu cheiro
Como seria depois das férias de verão.



Um grito arrepia o pescoço
Que deveria estar arranhado pelas tuas unhas mal cortadas
Um blues seduz a alma
Que há tempos já é tua.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Um tango e nada mais - Parte I

                                                                       
                                                                     << I Don't Want to Know - Vaya Con Dios >>
             Um tango em inglês na vitrola, dois dedos de Montilla no copo descartável.
              A maquiagem borrada, a vida em cacos - o que mais ela quereria? Mais um cigarro e tudo estaria certo. Não, mais um cigarro não faria tudo ficar bem de novo.
              Ela ainda podia sentir em seus dedos a pele suada daquele filho da puta. Os olhos de lobo ainda pairavam no ar esfumaçado do quarto - ela tinha certeza de que poderia acertá-los com seus sapatos, se realmente quisesse.
              Esticou-se no leito, ronronando como uma gata manhosa.
             "Fumar um brau", sussurrou a madame para si mesma. "Vou morgar hoje". Num suspiro de delírio e prazer, esticou o braço lânguido até o criado mudo, agarrou o cachimbo com a ponta dos dedos mórbidos, trouxe-o à boca e tragou fundo. Segurou a fumaça nos pulmões com força, como se aquilo pudesse trazer-lhe o amor de volta.
               A visão tornou-se confusa, o olfato já não era mais o mesmo. A pele era toda prazer e o coração galopava como um cavalo selvagem. Acariciou os próprios cabelos e gemeu, como se pudesse sentir seu homem ali, fazendo tudo o que ela queria.
               Levantou-se num salto e dançou, solitária, apalpando o próprio corpo. Tateava a pele em busca de mãos, em busca de alguma carícia perdida entre o tecido fino das vestes. Deu mais uma tragada e, então, expirou, vizualizando diante de si a imagem fantasmagórica de seu homem.
               "Cretino", disse, antes que ele a beijasse violentamente. Dançaram romanticamente nos vinhedos, e depois nos salões repletos de gente, e depois subiram aos negros céus, ignorando a gravidade. Acreditaram somente na lua pálida que os contemplava.
                                                                    (...continua...)
                                                                        

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Não presto, mas me divirto.

"Marlene, você é uma piranha".
"Eu sei, George. Melhor do que você, que é chifrudo".

Mentir só pra glamourizar

"Sim, minha querida: amanhã eu te ligarei para que trepemos novamente".
Hoje eu só queria tomar vinho chileno e ouvir Maria Bethânia.

sábado, 9 de outubro de 2010

Dancin' with myself

   Acordei com uma  tremenda dor de cabeça hoje.Abri a geladeira que há tempos não limpo, peguei a cerveja na porta e uma cebola já um tanto marrom.
   O barulho dos chinelos de borracha encharcados d'água me irritavam horrores, enquanto eu me dirigia para a sacada.Sim, a sacada.Lá eu dou meus tragos e me intoxico com álcool e restos de comida nada confiáveis.O rádio tocava Billy Idol quando eu me lembrei daquele filho da puta.Cuspi a cebola mastigada da boca, joguei fora a cerveja.
    O dia perdera a graça.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

A Fuga

           Não vai demorar muito e tudo será descoberto. Prepara tuas malas, teus perfumes caros e também o teu passaporte. Leva as tuas tralhas daí e já chama o táxi, pois o homem está chegando.
          As horas não são piedosas, mulher. Apressa-te. Os vizinhos já sabem de tudo e mesmo a polícia deu nota da tua história.
          O reflexo no espelho se constrange em mirar tua imagem; a fortuna recusa-se a visitar-te. Toma um único gole do vinho já quente e corre.
          O táxi está na porta. O gato mia expulsando-te de casa. Vai, mulher, que está tudo acabado.
          Depois da esquina, narinas exalam ódio de ti e mãos apertam, ríspidas, a prova do teu crime.Corre!
          O sapatos estão escorregando, sei, mas é preciso que te apresses!
          Ele vem, ele vem!Deixa as malas para trás, mulher, junto com o teu passado, bate a porta do táxi e vai!
          
      
    Quero ser assexuado. Quero viver pelado e solitário no topo de uma árvore qualquer, comendo raízes e me empenhando em esquecer os rostos medonhos que passam pela minha vida.
      Não quero ninguém que não seja um cachorro e nada que não seja álcool, só o meu travesseiro e uma caixa de lápis de cor.
      Sinto que meu sonhos andam a escapar de minhas mãos como água pelo ralo do banheiro e o chuveiro continua frio, droga!

       É, quero ser assexuado e viver sem ninguém. Sem sexo, sem mãos, sem abraços, sem beijos e sem amor. Sei que dói, mas sem amor é, sem dúvida, melhor. Humpf.
   Vou matar aula hoje, me enrolar em cobertores - que nada me cobram e só calor me oferecem -, beber uma vodca barata e esquecer tudo. Vou também comprar um maço de cigarros e fazer de cada um deles um novo amigo, nem que seja por apenas uma noite.
            E que venha o vento frio.

sábado, 2 de outubro de 2010

Viúva-negra

   "Eu tenho medo de machucar você".
   "Eu assumo os riscos". Os olhos de Jorge fulguraram temerários, nesse instante. Suas narinas exalaram a fumaça aromática de cereja, o narguilé seguro entre os dedos tremulantes.
    Os braços esticaram-se e entrelaçaram-se, como se fios fatais de uma teia se fizessem, os riscos se concretizando.
    Ah, riscos! Que são riscos? Que são riscos quando há uma inexplicável atração, uma vontade suicida de perigo, um querer mútuo de línguas quentes nos lóbulos auriculares?
    Jorge sabia que aquilo podia não ser amor, que aquilo podia ser um vício - sim, um vício. Sentir aqueles lábios venenosos na calada da noite, estremecer diante o perigo de ser devorado pela viúva-negra. Envolver-se numa teia incerta, invisível e mortal, capaz de arrepiar os pelos dos pés aos da nuca, embriagar-se de extasiante peçonha.
               Ele não queria segurança. Ele queria riscos, queria choros e abraços violentos e beijos sufocantes e quereres cotidianos. Ele queria. Queria muito ser envenenado e devorado.

Asas de Cera

                            
                         
                        
                                                                                                                                                                   " Ainsi, du plumage qu'il eut

Icare pervertit l'usage
Il les reçut pour s'on salut
Il s'en servit pour s'on dommage"
(Bertaud, bispo de Séez, apud Voltaire).

Não me importa!Não me importa!
Quero alçar voo, ainda que, tragicamente, tenha que me aproximar demais do Sol.
Minhas asas podem ser de cera, mas não o meu coração!

Nem caindo das garras dum'águia, qual Ganimedes
Ou vítima da cólera solar, como o filho de Dédalo,
Nada é tão arriscado quanto o brilho do teu olhar!

Os riscos, que ora assumo, são somente estímulo ao meu vício;
O medo do chão alimenta a sede de minha alma por mais e mais prazer.