sexta-feira, 9 de julho de 2010

Those Vagabond Shoes

         Chegou cheio de si, sentou-se e pôs os pés na mesa.O baque dos sapatos velhos sobre a madeira puída balançou a caneca de cerveja quente, mas não surtiu qualquer efeito sobre meu olhar distante.Meu interesse não mais residia naquele rosto incógnito, não naquelas mãos solitárias, não naquele pescoço em busca dum toque.A luz da lâmpada velha e suja não desviava o meu mirar, esquivo, vazio.
            Acenei para a garçonete, ela trouxe mais uma cerveja.Acendi um cigarro, traguei fundo, como se aquilo pudesse me dar alguma resposta.Os sapatos de couro em momento algum retiraram-se de diante de mim, como aquele rosto um dia fizera.
             A fumaça serpenteava sobre nossas cabeças, braços dos deuses indicando caminhos.Nuvens cinzentas emolduravam a silhueta sombria na minha frente.Incomodavam-me profundamente os pés sobre a mesa.Eu o odiava por aquilo.Não foi por um coração partido, tampouco por um adeus insincero.Nunca deveria ter repousado os pés sobre a minha mesa, nunca deveria ter pisado em meus sonhos com solas imundas.
              Levantei-me de súbito.Encarei-o, enfim.Segurei seus malditos pés e expulsei-os da mesa.Saí daquela bodega imunda.Queria que fosse pra sempre.Talvez tenha sido.
               Quatro cigarros e três esquinas depois do bar, foi o quanto ainda ficamos livres um do outro.Sob a luz tênue dum poste, o dono daqueles sapatos conseguiu meu perdão.